
Encontraram do lado de dentro das muralhas da cidade - datadas da época da dominação romana na Palestina, no começo do primeiro milênio de nossa época - a Basílica do Santo Sepulcro, supostamente construida sobre o túmulo de Cristo.
Nos anos seguintes os cruzados investiram fábulas em ouro, prata, pedras preciosas para enriquecer o túmulo de Jesus, e deixá-lo “digno de um rei”. Riquezas, obviamente, tanto arrecadadas entre a nobreza européia quanto saqueada de potentados islâmicos, derrotados pelo caminho. Doações menores também engordaram os cofres para o embelezamento do Santo Sepulcro, mas muitos dos fiéis eram tão pobres que mais precisavam do que podiam dar ajuda.
A Basílica encontrada pelos cruzados era, na realidade, uma reconstrução da primeira, construida no século IV pela mãe do imperador romano Constantino. Helena e o bispo Macário desejosos em encontrar o lugar onde fora sepultado Cristo empreenderam uma grande escavação numa área interna aos muros da cidade.
Na realidade os sepultamentos não podiam ser realizados dentro da área da cidade na época de Cristo, mas o local escavado foi anexado à área urbana de Jerusalém somente no século II d.C., quando o imperador romano Adriano mandou que se encontrasse um local adequado para a construção de um Foro e de um templo dedicado a Vênus, Jupiter e Juno (o Templo Capitolino).
Os homens da administração romana indicaram, então, a região do Golgota (em hebraico “crânio” ou “caveira”), morro onde eram realizadas as execuções de condenados e uma área de túmulos. Era nessa região que, provavelmente, se encontrava o túmulo escavado na rocha pertencente a José de Arimatéia, rico judeu, próximo a Jesus, que emprestou para seu sepultamento. A área foi então aterrada, sem que se retirassem as pedras base, e o templo edificado.
Foi nessa área que dois séculos depois Helena e Macário começaram as escavações, encontrando logo em seguida as pedras tumulares. Num dos nichos encontrados teriam sido localizados os madeiros que foram utilizados na crucificação de Cristo e dos dois ladrões.
Essa história do “Santo Lenho”, aliás, rendeu muito durante a Idade Média, fazendo o número de relíquias (objetos ligados a vida dos santos ou de Cristo) se multiplicar exponencialmente. Cada igreja queria ter um numero mais impressionante do que a outra de relíquias, até porque isso lhes garantia maiores doações e maior visitação de fiéis, numa verdadeira disputa turística-mercadológica. Isso acabou por promover uma crescente falsificação de relíquias que garantiam que um único santo tivesse seis braços, dez pernas, três cabeças. O famoso “Sudário de Turim” (o pano que teria coberto o corpo de Cristo após a crucificação, era apenas um dentre tantos, o que implica obviamente a pergunta: quantas vezes ele foi coberto??
Uma piada corrente na Idade Média costumava dizer que haviam tantas lascas da Santa Cruz que seria possível com elas construir a Arca de Noé
Mas isso não era um problema sério na época da Imperatriz Helena, e ela mandou erguer uma igreja suntuosa sobre o antigo Templo Capitolino. Contudo, no século VII, os persas invadiram a cidade e botaram a igreja no chão. A antiga igreja possuia cinco naves além de uma cripta onde estavam repousadas as cruzes encontradas
A destruição de 614 começou a ser revertida quinze anos depois, quando o um abade de nome Modesto iniciou sua reconstrução. Depois de concluida manteve-se intacta durante quatro séculos, quando durante a invasão árabe liderada pelo califa Haken - em 1009 - novamente a igreja foi completamente destruida.
Nos anos seguintes a igreja foi reerguida, mas de modo bastante simples, até mesmo por conta da dominação islâmica na cidade. Foi nesse ponto que os cavaleiros cruzados a encontraram com a tomada de Jerusalém no final do século XI. Com sua nova ornamentação a Basílica foi sagrada em 1149.
Ao longo da Idade Média o Santo Sepulcro foi o “pomo da discórdia” entre cristãos e islâmicos e sua “libertação” utilizada como argumento para sucessivas cruzadas. É claro que outros motivos de ordem econômica ou social estavam por trás destes movimentos, mas o Santo Sepulcro jamais saiu da pauta dos reis e papas na medievalidade.
Contudo, apesar da retomada de Jerusalém aos árabes por Saladino, a Basílica se manteve praticamente intacta até ser novamente destruída por um incêndio em 1808. Durante a dominação árabe foi garantido o acesso dos cristãos ao Santo Sepulcro - motivo de interesse desses -, desde que se pagasse uma generosa taxa de admissão - motivo do interesse dos senhores da cidade.
Ao longo desse tempo milhares de fiéis peregrinaram para lá, para adorar o túmulo e ver o mistério do acendimento sem intervenção humana da lamparina que ilumina o sepulcro. No século XIV, Mafeo e Nicolo Polo - pai e tio de Marco Polo - realizaram uma viagem a Jerusalém a fim de levar para Kublai Kan - o qual ficara impressionado com as histórias a respeito de Cristo contadas pelos mercadores venezianos - um vidro com um pouco do azeite que queima no Santo Sepulcro, tal era a fama de miraculoso do local.
A reconstrução da basílica, após o incêndio em 1808, foi em grande parte bancada por monges gregos, o que garantiu uma forte presença dos ortodoxos na manutenção da igreja. Mas essa reconstrução também determinou a retirada de inúmeros símbolos cristãos latinos, inadequados para os padrões ortoxos. Com o tempo a administração do Sepulcro passou a ser compartilhada entre ordens de seis diferentes igrejas cristãs: a copta, a armênia, a síria, a abissínia, além da grega-ortodoxa e a latina (ou romana).
Ainda hoje a abertura da igreja é realizada por um membro de uma ordem e o fechamento por um de outra ordem, evitando as brigas de tapas que marcaram décadas de relação conflituosa dentro do santuário.
Milhares de turistas e peregrinos visitam anualmente o Santo Sepulcro, movimento que diminui toda vez que a cidade de Jerusalém se vê abalada por séries de violência entre palestinos e israelenses, os quais disputam o direito de ter a cidade como sua capital, embora, atualmente, ela pertença à Israel, condição não reconhecida por muitas nações do mundo.
De qualquer forma parece muito paradoxal que o local mais agrado para o cristianismo tenha uma milenar história ligada a violência e a intranquilidade, posto que o “sepultado” morreu por valores completamente contrários. Mas essas são as contradições que compõem e movem a história.
A luta pelo dominio da terra santa foi marcado na história pela morte de milhões de soldados que tentaram invadir Jerusalem, alguns acreditam que até hoje Deus não enviou outro Cristo a terra para nao haver mais mortes.
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